domingo, 19 de janeiro de 2014

Felicidade

Le Bonheur - Agnès Varda (1965)

compartilhada,
fotografada,
engraçada,
avoada,
revoltada,
es
esvazia
esvaziada

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

. (ponto final)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O barulho que o plástico faz.


Com Amor, Plástico e Barulho (Renata Pinheiro) e Tatuagem (Hilton Lacerda), Pernambuco se destaca novamente no quadro de produção nacional de cinema, consolidando e criando mais público. Ambos os filmes, elogiados pela crítica, merecem um olhar atento e um texto, para externar a experiência estética que cada um proporciona. Desta vez, me debruçarei sobre o trabalho de Renata Pinheiro, diretora de arte que aplaudi de pé ao fim de Tatuagem, e que me deixou ansiosa para ver sua primeira vez como diretora de um longa. Amor, Plástico e Barulho teve um grande público, que se dividia entre os felizardos que conseguiram ingressos e os que voltaram para casa depois de passar um tempo na fila do São Luis e descobrir que já não havia mais lugares. Para um começo, é o maior sonho de todo cineasta ter o cinema lotado na estreia.

A melhor parte de assistir um filme durante o Janela Internacional de Cinema, é que o público vai com sede. Sede de risadas, de lágrimas e de identificação. Talvez esse seja o elo que una os 'Filmes Pernambucanos', a identificação com o público. Mas é só um palpite. Voltando para Renata Pinheiro, o filme começa com uma das melhores cenas, e que, para mim, é o retrato que resume tudo. Duas cantoras de brega, sendo uma diva em decadência e outra bailarina aspirante a diva, vomitando juntas em um banheiro sujo (lembrei até do cheiro que me remeteu durante a sessão!). Depois do vômito, vem o batom por cima, para voltar pro baile. Uma cena sem diálogos, simples, mas que diz muito. Reflete pensamentos sobre o que é a fama e o glamour, e qual é o preço deles.

A próxima cena que destaco é a da praia, onde os integrantes da banda Amor com Veneno vão se bronzear (ou clarear os pelos). Uma cena de bom humor, que exibe uma paisagem típica de domingo de sol na praia do Pina, bairro da zona sul do Recife. A comédia é conquistada pelas adolescentes batendo cabelo em pé no quebra mar sob os comentários do  personagem de Rodrigo Garcia. Pause. Essa é a única cena em que sinto a interação dos personagens com o ambiente narrativo. No próximo parágrafo, explicarei o porquê. Play. Como consequência do bronzeamento excessivo, Shelly (Nash Laila) fica de cama, sofrendo. Mas quem pouco sofre é Jaque (Maeve Jinkings), que seduz maravilhosamente o companheiro (Leo Pyrata) da amiga. E tudo funciona muito bem nessa cena. O rapaz está passando creme no corpo nu de Shelly, que nem percebe a presença de Jaque, que ainda está de biquini e já bebeu algumas garrafas de cerveja. Uma cena linda e sem muito texto, que ajuda a encerrar a sequência de diálogos falhos que veio antes, quando Jaque ainda brigava com Alan (Samuel Vieira) em outro cômodo da casa.

A partir daí, os vídeos de baixa resolução começam a ser mais frequentes, como se quisessem afirmar algo que esperei chegar, mas não encontrei. Os vídeos que eu acho pertinentes no filme como um todo são os referentes ao shopping, principalmente porque elas moram no Pina, apesar de esperar que a construção afetasse a narrativa de algum modo, mas não. Os vídeos e os takes do centro da cidade ilustram o lado brega e cafona do Recife, mas eles não me convenceram como parte da diegese. Soa como se os cenários fossem no Projac e na edição entrou takes da cidade para forçar a identificação urbana. Isso fez com que eu não acreditasse nos personagens, visse eles apenas como personagens de um filme. Por outro lado, essa falta de credibilidade torna tudo mais plástico, falso.

O filme é composto de cenas muito boas amarradas com vídeos de baixa resolução e alguns diálogos pouco convincentes. Me sinto mal por não ter gostado do filme como um todo, mas em pedaços. Por exemplo, a melhor fatia do bolo, a cena em que Jaque faz a melhor interpretação da música 'Chupa que é de uva' vai ecoar por muito tempo pela carreira da atriz (que esperamos que seja longa). Por outro lado, na cena final, em que as duas amigas bebem e dançam juntas em um boteco, torci pelo beijo lésbico. Torci pelo amor das duas, que se amam e se odeiam. Foi a fatia do bolo que faltou a cobertura.

Ainda me restam duas perguntas que ainda não consegui pensar em possíveis respostas. Primeiro, qual seria o público alvo do filme? Os frequentadores de bailes bregas? Os frequentadores de cinema alternativo (que, em sua maioria, não frequentam bailes bregas)? Os cantores românticos? Ainda não sei. E a segunda pergunta, talvez a mais pertinente e menos mercadológica: por que a melhor cena do filme só existe para subir os créditos? Ali, no ônibus surreal e brilhoso, Shelly está em um musical da Broadway, cheia de glamour. Mas no fim, vemos que é só um ônibus e nada mais. Tudo é falso, é feito de plástico.

Infelizmente, os impecáveis trabalhos do elenco e da direção de arte não conseguiram sozinhos satisfazer a sede de cinema que tinha me acompanhado durante o Janela. De um jeito ou de outro, sente-se uma originalidade em relação ao tema e ao tratamento dado a ele. O que me deixa ansiosa para assistir à próxima investida da diretora, que não fará mais parte do grupo dos estreantes em longas.

domingo, 13 de outubro de 2013

A estrada...



...fica cada vez mais vazia e o céu cada vez mais nublado. Uma família se afasta da sua zona de conforto, suportando um ao outro dentro de um carro. Entre brigas e brincadeiras, o carro avança para a linha de chegada.


Direção: Camilla Lapa e Marcelo Agra
Roteiro: Camille Reis
Fotografia: Rodrigo S. Pereira
Arte: Guilherme Cavalcante
Elenco: Lorena Arouche
Som: Thiago Guerra
Assistente de Produção: Pedro Albuquerque
Produção: Camille Reis e Camilla Lapa

Breve pensamento sobre sorrisos


Acho que não se pode ser perfeccionista com a felicidade. Ela não é planejável. Ela está em potencial. Como à beira, olhando para baixo, só esperando cair. Não sei do que é feita essa brisa que me segura ou a que me empurra de leve para a felicidade.

domingo, 25 de agosto de 2013

Ela tem uma agenda de capa colorida.


Mas, apesar de ter muitos compromissos, a maioria das páginas possuem linhas ansiosas por palavras. Quando que ela vai aprender a escrever seus compromissos antes, e não depois de fazê-los?


- A parte boa é que, como eu sempre tenho o que fazer, nunca fico entediada.

Um dia, ao perder a carona da manhã porque não correu o suficiente, resolveu desacelerar. Tomou café sentada. Penteou o cabelo de um jeito diferente, fez mais trancinhas. Então, subiu no ônibus. Se deu ao luxo de esperar passar um vazio, apesar de ser a hora do rush. Ao abrir a janela, sentiu o vento morno de pós chuva e ficou feliz. De olhos fechados, quase pegando no sono, pensou.

- A parte ruim é que eu sempre tenho o que fazer.

sábado, 20 de julho de 2013

Quando o céu está cinza...



... mal tenho vontade de falar. Eu me afundo. Sou como um recém surdo que se assusta quando não consegue ouvir sua própria voz. Se nem eu ouço, quem dirá os outros? E como terei certeza de que estou usando as palavras certas. Precisava de algo que não sabia o que era. Não era comida, não era dormida. Rezei. Cozinhei, arrumei, gritei, discuti. Quanto mais me mexo, mas a areia movediça cinza me deixa sem chão. Fechei os olhos e vi que até o ar me faltava. Precisava me encontrar com meu amante secreto. Ele me ignora, nem sabe que eu existo. Mas eu me contento somente o observando. Como uma falsa flâneur, peguei o primeiro ônibus que veio, até mesmo porque ele era da linha certa. O vento ajudou a chegar logo. Então eu entrei na sala escura, sozinha. Alguns conhecidos me acenaram com a cabeça, nada sério. Alguns surpresos, pois fazia tempo que eu não aparecia. Quando as luzes acenderam depois de algum tempo, saí e entrei no ônibus de volta, preenchida. Novamente, o cinema me salvou.

sábado, 15 de junho de 2013

(res)Pirar

'It's tall, isn't it?'

Gostava de ver o céu, que retribuía o olhar piscando as estrelas pra mim. Gostava de ver a lua, que retribuía sorrindo de orelha a orelha. Agora tenho que me conter com uma fresta que não me permite ver muito alto. Aquelas gravatas apertadas e sufocantes vivem para enfeitar seus donos que insistem em dizer 'Realmente, esse apartamento é um ótimo investimento. Muito moderno'. É para isso o que as gravatas existem. Não para seduzir vestidos e saias, mas para ditar o que é bom. É um nó na garganta que ninguém consegue desfazer.