sábado, 20 de julho de 2013

Quando o céu está cinza...



... mal tenho vontade de falar. Eu me afundo. Sou como um recém surdo que se assusta quando não consegue ouvir sua própria voz. Se nem eu ouço, quem dirá os outros? E como terei certeza de que estou usando as palavras certas. Precisava de algo que não sabia o que era. Não era comida, não era dormida. Rezei. Cozinhei, arrumei, gritei, discuti. Quanto mais me mexo, mas a areia movediça cinza me deixa sem chão. Fechei os olhos e vi que até o ar me faltava. Precisava me encontrar com meu amante secreto. Ele me ignora, nem sabe que eu existo. Mas eu me contento somente o observando. Como uma falsa flâneur, peguei o primeiro ônibus que veio, até mesmo porque ele era da linha certa. O vento ajudou a chegar logo. Então eu entrei na sala escura, sozinha. Alguns conhecidos me acenaram com a cabeça, nada sério. Alguns surpresos, pois fazia tempo que eu não aparecia. Quando as luzes acenderam depois de algum tempo, saí e entrei no ônibus de volta, preenchida. Novamente, o cinema me salvou.